Assustei-me quando reparei o olhar profundo que ele tinha....
Já tinha reparado nele, quando me havia sentado na mesa para ler o meu livro e beber o chá.
Tinha um ar carregado, profundo, a emanar uma infelicidade tão grande que assustava por ser quase contagiante...
Estava a beber imperiais, sozinho, a fitar o mar...apenas isso...a fitar o mar e a beber cerveja.
Com cerca de 40 anos, vestido de um típico casual de fim de semana, correcto.
Nas restantes mesas, o típico de Domingo à tarde em Carcavelos, uns casais de namorados, grupos de amigos, alguns com filhos pequenos, enfim, o normal de uma tarde de "quase-sol" com uma temperatura bem agradável em Janeiro.
Na praia os usuais surfistas, cães a passear os donos e um monte de gente a passear no paredão e mesmo na areia. Verifiquei, observei, confirmei uma vez mais, o número de pessoas que anda na rua com um ar tão infeliz...Aparentemente, as pessoas que tinham crianças pequenas, a brincar, estavam mais sorridentes...mas é só uma observação.
Mas os olhos....os olhos dele é que me chamaram a atenção. Assustaram-me porra. O homem estava num estado de suspense, tão pensativo que acho que se o abordasse ele nem reparava que falava para ele. Se calhar deveria tê-lo feito, perguntar se estava tudo bem (como se fosse necessário perguntar), mostrar-me prestável para ajudar....mas a verdade é que não tinha nada com isso...Tinha-lhe acontecido alguma coisa à muito pouco tempo, à tão pouco tempo que as reacções dele eram ainda nulas, dormentes, o tal olhar profundo batia tudo o que o rodeava...
Não o fiz, não o abordei, acabei o meu chá, paguei e saí. Provavelmente mais rapidamente do que seria de esperar, sem acabar o capítulo, esta pessoa estava a incomodar-me.
Fui passear à beira mar, ao longo da praia.
Soube-me mesmo bem, gosto de Carcavelos, já lá fui muito feliz....
Gostei deste meu final de tarde, mas fiquei a pensar neste olhar...