Estou de olhos fechados.
Sinto a mão dela a percorrer-me o cabelo, a tocar-me a nuca, quase a avaliar as
irregularidades da minha face....
Sinto que estou a ser descoberto. Que, de olhos fechados, me toca as sobrancelhas, a orelha, o nariz, a testa e novamente o cabelo.
Estou de lado, igualmente de olhos fechados, pura e simplesmente a sentir este arrepio, a usufruir o momento, a deixar-me levar...e a gostar, a amar, a adorar.
Sinto que devo devolver.
Inicio com a minha mão o toque nos seus cabelos, começo a passar suave e gentilmente os dedos pela sua orelha, descaio para a testa e entre os olhos, aqui ainda mais ao de leve...
Abro os meus olhos suavemente.
Verifico que estou a ser observado. Não sei à quanto tempo, mas os olhos dela são de um amor verdadeiro, de quem provavelmente me sente perto mas que ainda não sabe dizer o que sente de outra forma...com este momento não é mesmo necessário...
Ela, no seu estado de quase dormência absoluta, continua a acariciar-me e, do nada, sem que nada o fizesse prever, quebra o silêncio e diz baixinho:
- Gosto muito de ti papá!
Fechou os olhos. Sei que vai dormir descansada!
Sentir-mo-nos ser tocados é bom. Mas tocados cá dentro é tão melhor...